Ás vezes me pego pensando. Mas pensando mesmo. Aquela coisa fitar algum ponto em meio ao nada e virar meus olhos para dentro da minha cabeça. E o que eu vejo não é escuro. É mais ou menos como um reflexo de tudo que se encontra do lado de fora, só que diferente. Tem gente que do lado de fora pode parecer insignificante, mas que dentro da minha cabeça, quando meus olhos dão meia-volta, são grandes, moram em um altar e dificilmente consigo entender o que elas dizem, mesmo quando minha cabeça balança repetidamente para cima a para baixo e minha boca sussura um sim rouco, quase sussurrado.
E colocar meus olhos de volta em sua órbita usual dói. Não é um movimento natural. É coisa pra se fazer quase nunca. Mas eu desobedeço, faço toda hora, em qualquer lugar. Dou passos para trás em busca da parede mais próxima e, quando minhas escápulas tocam a parede tão fria quanto minhas mãos, é que reclino minha cabeça para trás até bater, também. Fecho os olhos e eles giram cento e oitenta graus sobre seu próprio eixo. Abro-os novamente. E vejo o reflexo, vejo como são armazenadas as coisas dentro de mim. Vejo como ficou marcado o teu rosto. Aquela primeira vez que te vi. Ouço um trecho da primeira conversa e os risos. Os sorrisos.
É por isso que eu tropeço em tudo que me é colocado na frente como obstáculo. É por isso que muitas vezes eu caio. E me machuco. Não porque sou cego (sou apenas míope - e bem pouco). Eu caio porque não estou olhando para frente. Estou perdido em uma caixa redonda cheia de espelhos e monitores. Perdido em memórias e em pensamentos. Todos esses com inúmeras interpretações e caminhos possíveis, a serem seguidos ou não. Estou sempre perdido. Separando, organizando, hierarquizando. Pra depois juntar tudo entre minhas mãos e jogar pra cima, como se estivesse sorteando envelopes em uma promoção televisionada.
Não vejo teu rosto, nem tua maquiagem, nem teus cílios enormes. Você acha que fico me perdendo em detalhes. Mas olho pra dentro de mim. E é daqui que vejo o que tem dentro de ti.
-L.
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Saudade não é o que a gente sente quando a pessoa vai embora. Seria
muito simples acenar um ‘tchau’ e contentar-se com as memórias, com o
passado. Saudade não é ausência. É a presença, é tentar viver no
presente. É a cama ainda desarrumada, o par de copos ao lado da garrafa
de vinho, é a escova de dentes ao lado da sua. Saudades são todas as
coisas que estão lá para nos dizer que não, a pessoa não foi embora.
Muito pelo contrário: ela ficou, e de lá não sai. A ausência ocupa
espaço, ocupa tempo, ocupa a cabeça, até demais. E faz com que a gente
invente coisas, nos leva para tão próximo da total loucura quanto é
permitido, para alguém em cujo prontuário se lê “sadio”. Ela faz a gente
realmente acreditar que enlouquecemos. Ela nos deixa de cama, mesmo
quando estamos fazendo todas as coisas do mundo. Todas e ao mesmo tempo.
É o transtorno intermitente e perene de implorar por ‘um pouco mais’.Saudade não é olhar pro lado e dizer “se foi”. É olhar pro lado e perguntar “cadê”?
- L .
- L .
Mais uma cidade . Novo ar. Uma casa nova, no mesmo lugar
E é tão real, o pesadelo de perder o discernimento pra sempre.
Tenho acordado de sonho nenhum, tenho dormido apenas pra ver se paro de sonhar?
É o momento em que meu peito pode ser perfurado pela mais insignificante flecha de papel.
A cada vez que ergo meu corpo, percebo nos pés descalços a textura de um novo chão, na pele o toque de um vento que vem de outro lugar.
Então a gente fecha os olhos e caminha até cair.
- L .
Tenho acordado de sonho nenhum, tenho dormido apenas pra ver se paro de sonhar?
É o momento em que meu peito pode ser perfurado pela mais insignificante flecha de papel.
A cada vez que ergo meu corpo, percebo nos pés descalços a textura de um novo chão, na pele o toque de um vento que vem de outro lugar.
Então a gente fecha os olhos e caminha até cair.
- L .
quinta-feira, 12 de abril de 2012
A gente costuma achar que o mundo inteiro pensa da mesma forma que a
gente. A gente costuma achar que somos amados pelos mesmos motivos pelos
quais amamos. A gente ama e, inconscientemente, encomenda um amor
igual. O que nos bate a porta não é menor, não é pior, é diferente. É o
amor que um outro alguém construiu, esperando receber em troca um
espelho do que sentia.
- L.
- L.
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