sexta-feira, 13 de abril de 2012

Ás vezes me pego pensando. Mas pensando mesmo. Aquela coisa fitar algum ponto em meio ao nada e virar meus olhos para dentro da minha cabeça. E o que eu vejo não é escuro. É mais ou menos como um reflexo de tudo que se encontra do lado de fora, só que diferente. Tem gente que do lado de fora pode parecer insignificante, mas que dentro da minha cabeça, quando meus olhos dão meia-volta, são grandes, moram em um altar e dificilmente consigo entender o que elas dizem, mesmo quando minha cabeça balança repetidamente para cima a para baixo e minha boca sussura um sim rouco, quase sussurrado.
E colocar meus olhos de volta em sua órbita usual dói. Não é um movimento natural. É coisa pra se fazer quase nunca. Mas eu desobedeço, faço toda hora, em qualquer lugar. Dou passos para trás em busca da parede mais próxima e, quando minhas escápulas tocam a parede tão fria quanto minhas mãos, é que reclino minha cabeça para trás até bater, também. Fecho os olhos e eles giram cento e oitenta graus sobre seu próprio eixo. Abro-os novamente. E vejo o reflexo, vejo como são armazenadas as coisas dentro de mim. Vejo como ficou marcado o teu rosto. Aquela primeira vez que te vi. Ouço um trecho da primeira conversa e os risos. Os sorrisos.
É por isso que eu tropeço em tudo que me é colocado na frente como obstáculo. É por isso que muitas vezes eu caio. E me machuco. Não porque sou cego (sou apenas míope - e bem pouco). Eu caio porque não estou olhando para frente. Estou perdido em uma caixa redonda cheia de espelhos e monitores. Perdido em memórias e em pensamentos. Todos esses com inúmeras interpretações e caminhos possíveis, a serem seguidos ou não. Estou sempre perdido. Separando, organizando, hierarquizando. Pra depois juntar tudo entre minhas mãos e jogar pra cima, como se estivesse sorteando envelopes em uma promoção televisionada.
Não vejo teu rosto, nem tua maquiagem, nem teus cílios enormes. Você acha que fico me perdendo em detalhes. Mas olho pra dentro de mim. E é daqui que vejo o que tem dentro de ti.

-L.
 -L .


 


A preguiça física nos impede de mudar. Mas basta uma faísca entre dois neurônios para que nossa mente nos aponte para outra direção. Das duas uma: ou tu segues as novas coordenadas, que te podem levar por terrenos inóspitos e até mesmo campos minados, ou optas por permanecer no curso antigo, ignorando a intermitente buzina que te avisa: “estás no caminho errado”.
Não digo “errado” no sentido mais amplo da palavra. Talvez sejam justamente as instruções antigas, as que estavam corretas. Mas acredito que, às vezes, precisamos deparar com um beco sem saída para descobrirmos que o caminho é pro outro lado. A vida já cansou de me provar repetidamente que a escolha certa é justamente a que me parece mais errada. Mas a gente precisa errar. Mas não errar por engano, por distração, displicência. Eu erro com força, e com vontade. Eu erro melhor, para errar menos.
E, sim, saio errante pela rua, torcendo pra chuva não me pegar, ou enxarcar cada centímetro da minha pele. Não é que eu esteja deixando a maré me levar, como se fosse plâncton. Eu erro por aí na tentativa de acertar. Depois de perceber que, sempre que acho que estou fazendo a coisa certa, descubro que estou machucando alguém, tenho apostado cada vez mais no que não me parece sensato. Improvável? Vamos. Impossível? Não existe. Impensável? Bora!
Sigo a maré das sinapses. Se a mente muda, eu mudo. Somente assim eu posso ser cem por cento sincero com aquele que mais estimo: eu. Egoísta: para caralho, mas se eu não fizer as coisas por mim, sei que minha mãe não as pode fazer, e nem tenho mais idade para isso. Dirijo com o tanque na reserva, mas é para voar baixo.
“Tá, mas o que é que cabe em um mês?” – tu perguntas. Um ciclo lunar, um ciclo menstrual, uma copa do mundo, duas olimpíadas, um amor de verão, quatro amores de verão…
Um mês é o tempo que levei pra escrever denovo. O tempo que minha mente demorou pra mudar o curso da minha alma. Pra onde ela aponta agora? Pra bem longe.


- L .



Saudade não é o que a gente sente quando a pessoa vai embora. Seria muito simples acenar um ‘tchau’ e contentar-se com as memórias, com o passado. Saudade não é ausência. É a presença, é tentar viver no presente. É a cama ainda desarrumada, o par de copos ao lado da garrafa de vinho, é a escova de dentes ao lado da sua. Saudades são todas as coisas que estão lá para nos dizer que não, a pessoa não foi embora. Muito pelo contrário: ela ficou, e de lá não sai. A ausência ocupa espaço, ocupa tempo, ocupa a cabeça, até demais. E faz com que a gente invente coisas, nos leva para tão próximo da total loucura quanto é permitido, para alguém em cujo prontuário se lê “sadio”. Ela faz a gente realmente acreditar que enlouquecemos. Ela nos deixa de cama, mesmo quando estamos fazendo todas as coisas do mundo. Todas e ao mesmo tempo. É o transtorno intermitente e perene de implorar por ‘um pouco mais’.Saudade não é olhar pro lado e dizer “se foi”. É olhar pro lado e perguntar “cadê”?

- L .

Mais uma cidade . Novo ar. Uma casa nova, no mesmo lugar

E é tão real, o pesadelo de perder o discernimento pra sempre.
Tenho acordado de sonho nenhum, tenho dormido apenas pra ver se paro de sonhar?
É o momento em que meu peito pode ser perfurado pela mais insignificante flecha de papel.
A cada vez que ergo meu corpo, percebo nos pés descalços a textura de um novo chão, na pele o toque de um vento que vem de outro lugar.
Então a gente fecha os olhos e caminha até cair.

- L .

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A gente costuma achar que o mundo inteiro pensa da mesma forma que a gente. A gente costuma achar que somos amados pelos mesmos motivos pelos quais amamos. A gente ama e, inconscientemente, encomenda um amor igual. O que nos bate a porta não é menor, não é pior, é diferente. É o amor que um outro alguém construiu, esperando receber em troca um espelho do que sentia.    
- L.